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Um Conto de Páscoa: O Amendoim

Um Conto de Páscoa: O Amendoim

O calor diminuía a cada dia por aquela época ao passo que as paisagens ganhavam um colorido todo especial. O verde das matas era salpicado por uma profusão de cores, misturando flores de cores roxas, lilases e brancas. Eram as quaresmeiras que despertavam e com ela o prenúncio do tempo de Páscoa. Parecia que o clima enquanto entoava o seu vento trazia consigo as vibrações da deusa Ostara. Um balé harmonioso!

Dentro de casa, mais precisamente da despensa, surgia uma cesta repleta de cascas de ovos que a mãe guardara. Cada nova Kuchen que mamãe fizera, ao longo desses doze meses, ajudava a encher a cesta. Para as crianças, a cesta denunciava que a qualquer domingo o coelhinho viria. Colorir as cascas de ovos era uma tarefa noturna, enquanto os pequenos dormiam. A Páscoa tinha essa magia: o segredo do coelhinho. Ovos amarelos, com tintura de marcela ou açafrão; beterraba ralada para ovos rosas e violetas; espinafre ou salsa para os verdes, repolho roxo para azuis escuros. Algumas mães, mais aventureiras, pintavam as cascas de ovos de modo que elas ficassem multicoloridas, verdadeiras obras abstratas. Para isso, utilizava uma vasilha com água e várias tintas dentro. Depois, era só mergulhar, uma a uma, as cascas de ovos.

– Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

-Um ovo, dois ovos, três ovos assim…

– Coelhinho da Páscoa, que cor eles têm?

– Azul, amarelo e vermelho também!

Do fundo da gaveta, apareciam todos os tipos coloridos de papéis de embrulho e que eram cortados uniformemente em quadradinhos, posteriormente dobrados, tal como um origami japonês. A pontinha precisava estar milimetricamente alinhada, caso contrário, o açúcar do amendoim escapava.

Ah, o amendoim! Quem acha que nessa época o chocolate é importante, certamente nunca experimentou um bom amendoim coberto do mais branco e nevado açúcar. Todavia, para se ter amendoim por aquela época, fazia-se necessário muita sabedoria popular. A época certa de se plantá-lo para que no Tempo de Quaresma fosse o período de sua colheita. O pai, homem astuto e observador da natureza, fazia isso com maestria. Ele sempre fora um mestre, entendedor do mundo. O pai sabia de tudo! Mas como? Apenas observando as fases da lua e sentindo a brisa do vento…

O amendoim após colhido era secado e debulhado. Uma parte era reservada com cascas para se assar em junho, nas festas juninas. O restante, era torrado para depois ter a sua pele retirada. Limpar o amendoim era uma tarefa que exigia paciência. Mamãe, caprichosa como era, passava algumas tardes sentada sob a sombra de uma pereira, com a peneira de amendoins a serem limpados. Para as crianças, o momento mais mágico era quando mamãe jogava o amendoim para o alto e soprava as casquinhas. Batia nos pequeninos um frenesi, misturando sentimentos de admiração e espanto.

O verdadeiro sabor do amendoim de Páscoa está nesse ciclo que ele possui! O amor e a paciência envolvidos em toda a sua história. Desde o ato de se colecionar cascas de ovos e guardar papéis de embrulho para os cartuchos, até o momento em que o amendoim fica pronto, branquinho e coberto de açúcar.

A festa ficava completa mesmo era no domingo de Páscoa. Bem cedinho, com os primeiros raios de sol, quando as crianças procuravam suas cestinhas que eram escondidas pelo coelhinho. Repletas de ovos e cartuchos de amendoim, mas mais do que isso, essas cestas transbordavam o amor incondicional dos pais pelos seus filhos. Ainda mais quando a cesta era de bambu, trançada pelo próprio pai…

Jonei Bauer:

O texto acima é de inteira responsabilidade de Jonei Bauer, não expressando necessariamente a opinião do Portal do Rancho.

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